segunda-feira, 29 de julho de 2013

A forca

Me condenam por tudo.
Por chorar às escondidas,
Por lamentar suas partidas,
Por jamais curar minhas feridas.

Me condenam por tudo!
Por desperdiçar comida,
Por temer nossa despedida,
Por dividir o mesmo copo de pesticida.

Me condenam por tudo!
Por cair na avenida,
Por sentir frio na barriga,
Por não saber aquela cantiga.

Me condenam por tudo!
É a vida corrompida,
É a chantagem mal sucedida,
É a nuvem enegrecida.
É a risada precedida,
É a árdua subida,
É a corda esticada,
É o pescoço envolvido,
É o cadafalso acionado.
Forca!

terça-feira, 23 de julho de 2013

Em pedaços...

Eram resquícios de um passado assustador.
Ao invés de juntar os cacos
Escolhi me partir.
 
Eram fragmentos de uma lembrança borrados.
Pensei que conseguiria me guiar na neblina.
Andei a esmo.
Me perdi.
 
Eram histórias sobre heróis e vilões.
Nunca defini qual deles seria
Ou qual deles seguir.
O coração errou às vezes.
A moral da história nunca entendi.
 
Eram canções de amor.
Me embalei por várias que cantavam a solidão.
Talvez tenha perdido tempo em ocultar o silêncio
E ouvi o que quis ouvir.
Entendi palavras que jamais partiram de ti.
 
Eram frutas da árvore mais frondosa.
Esperei que alguma caísse para estancar minha fome.
Calcei meus pés de desejo e subi tão alto
Que colhi frutos verdes.
No alto, esmoreci.
 
Eram quentes meus sonhos.
Sonhava com outros.
Tinha pesadelos em mim.
Jamais acordei sozinho.
Em lençóis me submeti.
 
Eram você e eu.
Agora é fim.

quarta-feira, 5 de junho de 2013

Efêmero

Deseja que tudo termine
Em apenas um dia.
Quer andar até a Lua
Ou até mesmo conhecer Plutão.
Quer caminhar pelo vale dos mortos,
Ou tocar acordeom para um velho surdo.
Quer abraçar o mundo apenas por um segundo.

Deseja que tudo comece
Em apenas um dia.
Estourar todas as bolhas de sabão
Ou embalar todas as bolas de um canhão.
Quer conhecer Paris
Mas ainda nem saiu fora de si.
Quer abraçar todo mundo apenar por um segundo.

Deseja que tudo feneça
Em apenas um dia.
Não pra cuidar de algo,
Mas pra ver como tudo enfim, termina.
Quer tocar com mãos impacientes
Flores artificiais.
Quer aprender taxidermia em mim.

Deseja que tudo apareça
Em apenas um dia.
Quer uma grande paixão e uma triste despedida.
Quer visitar os parentes desaparecidos.
Ler todos os livros
E rimar todas as palavras do dicionário.
Menos o amor.

Passante

Boa tarde!
Posso passar?
Enfim, já passou!
Não há rastros
Nem motivos para olhar para trás.
Se olhar, nem se arrependerá.
Haverá destruição!
Então será melhor que não olhe.
Vão se reerguer como sempre.
Menos você.

Boa tarde!
Posso passar?
Enfim, já passou!
Há neblina cobrindo o caminho.
Há fogo encobrindo seus rastros.
Poderia ao menos ter me deixado integro.
Vá, passe!
Todos passam!
O que deveria permanecer intacto,
Você destruiu.

Boa tarde!
Posso passar?
Enfim, já passou!
O que se há de fazer?
Recolher restos,
Atar o peito arfante em gaze.
Esperar o fim deste torpor.
Não se preocupe em esconder seus rastros.
Não te seguirei.
Não pactuarei com sua conduta
De destruição em massa.
Não quero que dilacere o que sobrou de meu corpo.

Boa tarde!
Posso passar?
Enfim, você não pode ficar.
Mesmo que eu queira.
Mesmo que eu arda
À espera do seu golpe final.
Mesmo que eu goze
Com um punhal encravado no peito.
Sim, pode passar!
Vá, sou sua maior destruição.
Quase uma hecatombe.
E meu último desejo
Você não quer ouvir.
Por isso invade e passa...
Mesmo que eu peça que fique...

segunda-feira, 3 de junho de 2013

Volúpia

Tem dias movidos à vazios.
Conversas vazias.
Copos vazios.
Olhos vazios.
Repetição de finos tratos
Degustam restos como ratos.
Erram em manter o anonimato!
Vou pra Zona.
Ser puta, franca em Manaus.
Morarei numa casinha de sapê!
Atirarei carne aos ladrões!
E mesmo assim haverá o meu vazio.
o vazio do meu sexo em meu corpo nu.

Preencha meu vazio
Com suas mãos incandescentes.
Deixe espaço para esse vão recorrente
Que meu coração vai querer.
Serei a puta mal paga,
A mal pagadora de promessas.
Serei a puta chamariz pro golpe na praça.
A mulher gazela
Que te gela numa noite em Paris.
Mas seja você
Algo que torne meu vazio grandioso e intenso.

terça-feira, 28 de maio de 2013

Silêncio

E

Enfim

silêncio

o momento

em que a água

se prepara para a gota

tépida, inodora, quase incolor.

Silêncio ao Sol, sob a chuva

Em gotas mornas, densas,

Aquosas, quase mudas.

E esparramar no chão.

Morrer nos lábios.

Sofreguidão.

terça-feira, 14 de maio de 2013

Simples

Há coisas simples que me contentam.
Um sorriso sincero.
Um copo de água.
Temperatura ambiente, por favor!
Um beijo roubado.
Uma brisa leve em meu rosto.
O cheiro de banho tomado.
O gosto do café.
Um banho demorado.
O afago do primeiro encontro.
 
Há coisas simples que me satisfazem.
Um sorriso amigo.
Uma limonada.
Gelada, por favor!
Um beijo amado.
Um banho de sol.
O cheiro de café coado neste exato momento.
Um banho acompanhado.
O afago do despertar.
 
Há coisas simples que me confundem.
Um sorriso tímido.
Uma boca em meu copo.
Quente, por favor!
Um beijo esperado.
Uma brisa roçando um corpo
De banho tomado.
O café da manhã.
O afago do adeus.